quinta-feira, novembro 16

Botando banca

O lugar não é exatamente escondido, está num cenário improvável. No estacionamento de uma grande loja Nicom, no Brooklyn, à esquerda da entrada principal, se localiza a banca de Guerrinha, um colecionador especializado na mais longeva revista adulta do país, a Playboy.

Nesse ambiente ruidoso e excessivamente empoeirado Guerrinha estoca cerca de mil exemplares de Playboys, nacionais e americanas, além de muitas Sexy, Vip, Trip, alguns livros e uma coleção completa da enciclopédia Mirador, que comprou "com a intenção de ler. Achei que ia devorar todos, mas ainda não deu".

Sua primeira Playboy foi comprada em 1969, quando ele tinha 11 anos. É uma edição americana com uma bela capa psicodélica. Multicolorida. E o melhor é que ela pode ser sua por cem mangos. O que é relativamente barato se comparado com o valor de outras edições.

Algumas delas chegam a custar alguns milhares de reais. Isso se Guerrinha estiver disposto a vender. Pelo fato de ser um colecionador, ele preza pelo estoque. Segundo seu julgamento, às vezes é melhor guardar algumas edições de uma revista rara, digamos Lídia Brondi, para que ela se valorize.

Todas as edições da Playboy

Guerrinha possui, em sua casa, dentro de caixas e devidamente embaladas, mais de seis mil exemplares da Playboy. A maioria delas novas. E já adverte, "coleções completas são só 35". Da primeira, de 1978, com a gaúcha de longas cabeleiras Debra até a edição atual, com Danielle Sobreira na capa, estão todas lá.

Claro que algumas são mais marcantes que outras. Como Betty Faria, a primeira Playboy que ele vendeu. Ou Hortência, a musa do basquete, que segue virgem em vendas há mais de 14 anos, tempo que Guerrinha está nesta banca. Hortência é um caso que renderá um intertítulo próprio.

Guerrinha decide quais edições venderá pela lógica da oferta e da procura. A título de exemplo, a edição com Viviane Victorette na capa (setembro de 2005), apesar de recente, já é uma raridade. Em pouco mais de um ano, a tiragem esgotou, o que já é motivo suficiente para tirar a revista do status de vendável. "Nesses casos vai pra coleção."

Antes de se chamar Playboy era Homem e, ainda antes, Status, mas com um conceito de nudez bem mais comportado que o da revista do coelho, que também não mostra nus exatamente explícitos.

A pior Playboy de todas

Além de campeã de basquete e virgem de vendas na banca de Guerrinha, Hortência ainda ostenta alguns outros títulos. Ela é a estrela de quem ele possui mais cópias, "cerca de 66," ele arrisca.

Hortência detém o recorde de Playboy mais barata da banca (ele já vendeu um exemplar com a Xuxa na capa por dez mil reais): noventa centavos é o valor do desembolso pela nudez da rainha da cesta.

Confesso que fiquei tentado em adquirir uma cópia para mim. Afinal, uma Playboy que nunca foi vendida numa badalada banca de colecionador seria um troféu interessante na minha coleção juvenil. Mas as forças cósmicas do puritanismo foram mais fortes e Guerrinha não dispunha de nenhuma cópia. "Ela é tão feia que se esconde," conclui em tom de blague.

Passado o primeiro baque da frustração, tive de me contentar com uma edição -usada- de uma obscura revista Hunter com outra raridade na capa: Gretchen nua e grávida. Sete reais; a rainha do bumbum é bem mais cara que a rainha da cesta.

Concorrência desleal?

Guerrinha não revela qual a revista mais cara que já vendeu. Diz que foi por mais que dez mil reais, há pouco mais de dois meses e que o felizardo pagou a prestação. "Ele ainda tá pagando."

Guerrinha tem medo de outros colecionadores que possam querer passar a perna nele. "O cara vem aqui, conversa, faz que quer comprar, mas só quer saber por quanto eu tou vendendo." Esse é o motivo pelo qual ele não aceita cheques.

Para garantir seu estoque, ele também tem de comprar alguns exemplares. Recentemente, Guerrinha estava indignado porque pagou R$ 800,00 ("Paguei caro pra caramba!") por uma edição com Betty Faria, a segunda edição da Playboy nacional.

Antes mesmo de vender Playboys, ainda garoto, ele as alugava aos amiguinhos de escola. E continua fazendo isso, não mais para seus amiguinhos, mas para aqueles senhores que, como ele define, são os "tarados na hora". Por uma módica moedinha bicolor você pode ficar de 2 a 5 minutos com praticamente qualquer edição da Playboy. Algumas ele não aluga. Ou você pode desembolsar cem merréis e passar uma semana com a moça.

Mas Guerrinha pensa em encerrar essa atividade porque teve alguns problemas com clientes. "Alguns clientes devolviam a revista suja, com as páginas meio grudadas. Aí eu tentava descolar e rasgava tudo."

A banca de Playboys do Guerrinha fica aberta de domingo a domingo das 9 às 21 horas (menos aos domingos e feriados, quando fecha às 18h) na rua Ática, 42, Brooklyn. Se você pensou que, por causa daquela edição da Hortência que você não quis comprar, sua coleção fosse ficar incompleta, pense a respeito. Aliás, ele diz que já vendeu umas cinco ou seis coleções completas. Cada coleção custa, hoje, 25 mil reais.


tOk não tem a edição da hortência


em off: este texto foi todo chupado do fraldas GERIÁTRICAS.

Um comentário:

tOk disse...

Como o ander_laine, dono do fraldas GERIÁTRICAS, bem avisou:

A revista Status não precedeu a Homem, era sua concorrente.

Nas palavras de ander: "A Status era a Playba da Editora Três".